Vou abrir o jogo: nunca tive lá muita simpatia por Penélope Cruz. Mas,
entrego os pontos e admito (alegremente) que ela está maravilhosa
em Volver, o novo filme de Pedro Almodóvar, que vi agora de manhã
em sessão para a imprensa. Não é difícil apostar que Volver será
uma das grandes atrações da 30ª Mostra de Cinema, pois Almodóvar
tem público fiel. E algum jeito ele deu em Penélope, que,
de enjoadinha que sempre me pareceu, ganhou ares de mulherão,
uma espanholona daquelas de Almodóvar, despachada, peituda,
mandona, cheia de iniciativa e paixão. Ela é Raimunda, vive com
a filha e o marido numa cidadezinha da Mancha,famosa na Espanha
pelo vento insalubre e pelo grande número de loucos entre seus
habitantes. Há um imbróglio familiar, supostos mortos que
reaparecem e o eterno universo feminino de Almodóvar.
Nesse filme você ri e você chora. E nem por um momento
questiona a verossimilhança de uma história que, analisada de
maneira racional, pareceria inverossímil a mais não poder.
Mas quem liga para a racionalidade quando entra em campo
aquela intensidade emocional de que só Almodóvar
parece conhecer o segredo no cinema contemporâneo?
Penelope Cruz, exuberante em
Volver, de Pedro Almodóvar